Muitas pessoas ainda têm receio de usar elementos escuros em seus altares, tem medo de velas pretas. Como se fosse algo denso, pesado...
Mas será que esse incômodo vem mesmo de uma energia negativa? Ou será que vem de uma associação cultural e inconsciente que nos foi ensinada onde tudo que é escuro é perigoso, tudo que é preto é "do mal", tudo que é sombra deve ser evitado?
É aqui que a magia e o autoconhecimento nos convidam a olhar mais fundo. Magia não é só luz. É totalidade. Somos dual. Não dá pra ser luz sem ser sombra. Não dá pra ter uma vida plena sem ser amiga da sua sombra.
Trabalhar com magia é, acima de tudo, reconhecer a dualidade da existência. Tudo na natureza é ciclo, é contraste, é dança entre opostos: dia e noite, morte e renascimento, silêncio e movimento. Nós também somos assim. Somos luz e sombra. Somos alegria e medo. Somos coragem e caos. E negar esse lado mais escuro é se afastar de uma parte essencial da nossa própria força.
Na magia, a cor preta não tem nada a ver com maldade. Como cita Adriano Camargo em Sistemagia: Preto. A cor do Caos primordial, das Trevas da criação e destruição, do Útero do Universo, da Matéria e da Tradição Mágica; cor da severidade, do respeito e da estabilidade psicomental e material; de dia absorve as energias, à noite é neutra...
Uma vela preta, por exemplo, pode ser usada para ancorar proteção espiritual, quebrar demandas, cortar laços nocivos, absorver energias negativas. Ela é ferramenta de limpeza, de poder e de contenção. Não é uma vela "do mal", é uma vela de defesa.
E mais: o medo dessa cor muitas vezes carrega um viés racista mesmo que inconsciente ao associar “preto” ao que é ruim, errado ou perigoso. Por isso, questionar esses condicionamentos também faz parte do nosso caminho espiritual.
Pessoalmente, eu me sinto bem até no escuro. É onde minha mente se aquieta, onde meus sentidos se ampliam, onde me conecto mais fundo comigo mesma e com os espíritos com quem trabalho. E eu sei que não estou sozinha nessa experiência. Mas muitas pessoas têm medo do escuro. Seja do silêncio, da solidão, do invisível. Esse medo é aprendido e justamente por isso pode (e deve) ser curado.
Se você trabalha com divindades como Hekate, por exemplo, já deve ter sentido esse chamado. Hekate é Senhora das Encruzilhadas, das sombras, dos portais. Não existe conexão verdadeira com Ela sem atravessar a sombra.
As tradições antigas viam o preto não como ameaça, mas como matriz da existência. O preto é o tudo antes do tudo, o espaço onde tudo se forma e ao qual tudo retorna.
Rejeitá-la por medo é rejeitar uma parte fundamental do trabalho mágico e de si mesma. Se você sente esse chamado, permita-se explorar. Trabalhe com uma vela preta com intenção, consagração e respeito. Sinta o espaço que ela abre. Nada de excessos (equilíbrio sempre) e nada de acender sem intenção!
O escuro não é seu inimigo. A sombra não é sua prisão. Ela é o útero da sua potência. Se liberta.
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